A laranja é uma das frutas mais consumidas no mundo e seus benefícios para a saúde são muitos. É rica em fibras e vitamina C. Contém vitaminas A, B (principalmente folatos) e E, e minerais, como Ferro, Zinco, Potássio, Cálcio, Magnésio e Manganês. Aumenta a imunidade, contém flavanoides antioxidantes que são conhecidos por reduzir o colesterol, prevenir doenças cardíacas e derrames, e pectina que ajuda a absorver níveis elevados de colesterol. Agora, uma pesquisa iniciada pelo Fundecitrus, inédita no mundo, quer melhorar geneticamente a laranja aumentando a quantidade de compostos benéficos à saúde e deixá-la ainda mais poderosa. O projeto coordenado pelo pesquisador Leandro Peña irá usar biotecnologia para inserir em laranjas comuns os genes de nutrientes que estão presentes somente em frutos das variedades sanguínea e falsa-sanguínea, como a Moro e a Cara-Cara. “Pretendemos incrementar a quantidade de fitonutrientes essenciais para o melhor funcionamento do organismo humano. O objetivo é agregar ainda mais valor nutricional ao fruto e ao suco de laranja”, afirma Peña. O intuito é alterar geneticamente a laranja para, que além dos nutrientes comuns, a fruta apresente teor considerável de antocianinas e licopeno, fitonutrientes que desempenham papéis importantes na redução do risco de desenvolvimento de diabetes e doenças cardiovasculares.As antocianinas presentes nas laranjas sanguíneas têm alto potencial de diminuir o envelhecimento precoce e morte das células. São pertencentes ao grupo dos flavonoides, responsáveis pela proteção contra os danos causados pelos raios ultravioletas e pela grande variedade de cores de frutas, flores e folhas que vão do vermelho-alaranjado, ao roxo e azul. Têm ação anti-inflamatória, hormonal, anti-hemorrágica, antialérgica e anticancerígena. O licopeno encontrado nas falsas-sanguíneas é responsável pela cor avermelhada do tomate, melancia e goiaba, entre outros alimentos. Quando ingerido ajuda a proteger as células do corpo humano, pois impede e repara os danos causados por radicais livres como estresse e poluição. É amplamente relacionado ao tratamento de doenças cardiovasculares e câncer, principalmente o de próstata. A pesquisa pode ajudar a enriquecer muito o cardápio brasileiro que não tem livre acesso as estas variedades devido à falta de condições ambientais ideais para o cultivo no país. Ainda facilitará a absorção do licopeno que fica retido nas visículas (gominhos) das laranjas falsas-sanguíneas e só é absorvido quando esta fruta é consumida in natura. O estudo, foi aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP e está sendo desenvolvido pela equipe de biotecnologia do Fundecitrus com auxílio do Instituto de Biologia Molecular e Celular de Plantas, da Universidade de Valência, na Espanha, e do laboratório da Dra. Cathie Martin, no John Innes Centre, no Reino Unido. O objetivo é inserir genes de licopeno e antocianinas na laranja Valência, cultivada e processada em grande escala, que ocupa lugar de destaque nos plantios pela boa produtividade e pelo tamanho dos frutos. A maioria dos países citrícolas a cultiva e, em muitos deles, ela representa a principal variedade comercial, pois produz frutos com possibilidade de exporta- ção de fruta fresca, mercado interno e suco concentrado. AÇÃO PROTETORA Uma pesquisa paralela está sendo desenvolvida, pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição (NAPAN), da Universidade de São Paulo (USP), com o apoio do Fundecitrus, para comprovar cientificamente como o licopeno e as antocianinas interagem no organismo humano e atuam na redução do risco de desenvolvimento de doenças. “A ciência está descobrindo que os frutos têm uma quantidade de compostos bioativos que podem ajudar a controlar as doenças crônicas não transmissíveis no futuro, o que é fundamental considerando que a população está envelhecendo. A parceria entre Fundecitrus e USP é muito importante. Juntos conseguimos unir conhecimentos práticos e acadêmicos no desenvolvimento de uma pesquisa que trabalha com um dos principais produtos econômicos do Brasil e tem como principal beneficiário o consumidor”, afirma o diretor de projetos do NAPAN, Franco Lajolo. A pesquisa é desenvolvida pelas pós-graduandas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP Daniela Forjo e Manuela Britto, sob supervisão da professora Neuza M. A. Hassimotto, que pretendem comprovar se a presença de antocianinas e licopeno no suco de laranja sanguínea e falsa sanguínea apresentam mais efeitos benéficos e protetores à saúde, em comparação com o suco de laranja comum. Estão sendo feitos testes químicos e biológicos em suco dessas laranjas que pretendem avaliar as características dos nutrientes e os seus efeitos no organismo humano. O estudo testará os compostos bioativos das laranjas tipo sanguínea e falsa-sanguínea em comparação com as variedades Pera e Bahia, que são geneticamente semelhantes e avaliará a ação protetora e benéfica dos nutrientes em relação a doenças cardiovasculares, resistência à insulina e dieta nutricional. A pesquisa do Fundecitrus e a da USP têm duração prevista de dois anos. A comprovação dos benefícios dos fitonutrientes e a transformação genética das frutas para torná-las mais nutritivas, poderá contribuir para o aumento da demanda pelo fruto e pelo suco de laranja.